quarta-feira, 13 de março de 2019

Três Romances policial inéditos!

Crimes? Somente na ficção.

Conheçam minha trilogia policial, histórias inéditas que vão levá-lo a pôr os neurônios em ação, numa viagem pelos meandros dos cenários dos crimes... Histórias envolventes, desafiadoras. Confira os livros no portal:

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terça-feira, 31 de julho de 2018

Romance Policial

Amigos,

se vcs apreciam a leitura de Romances Policiais (escrito por brasileiros, em cenários no Brasil), informo que disponibilizo GRATUITAMENTE meus três livros, em PDF, bastando apenas fornecer-me o email. Livros:

* Assassinato pela Internet

* Um Vulto entre as Cortinas

* Um Crime quase Perfeito


Abs.

Inácio Dantas

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Tabs: Romance Policial, Literatura de histórias policiais, 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Capítulos II, III, IV e V do romance policial "Um Vulto entre as Cortinas"


II

Helen era uma garota estudiosa, embora tímida e retraída por ter sofrido, no seu curto tempo de vida, infortúnios das poderosas mãos do destino. Tinha um corpo franzino, pele clara, cabelos loiros e longos e olhos castanhos que necessitavam de lentes corretoras.
Contava apenas onze anos de idade. Enquanto as demais crianças da sua idade viviam num mundo de alegria e brincadeiras, ela era reclusa, fechada em si mesma, prisioneira de um passado que insistia em estar sempre presente. Trazia no peito feridas de um sofrer que somente o futuro seria capaz de curar. Nesse breve período de existência perdera seu pai, que a abandonara aos dois anos de idade, quando num acidente de carro, dirigindo bêbado, causara a morte de sua mãe. Condenado pelo acidente, cumpriu a pena e depois desapareceu. Ela, órfã, ficou entregue aos cuidados de sua tia Júlia e de seu tio Vicente.

 III

Júlia era uma senhora de trinta e três anos e única irmã da mãe de Helen. Casada com Vicente há dez anos, não tinha filhos. Morena de olhos negros, irradiava uma meiguice e uma beleza interior iluminada pela beleza exterior. Apesar de despojada e de enfrentar os percalços da vida com disposição e garra, vivia por dentro sua incompletude de mulher, pois faltava-lhe ainda sentir no ventre a doce emoção de gerar seu próprio filho. E ela acalentava esse sonho, sonho de todo casal, inalienável. Quando mentalizava a possibilidade, deixava verter lágrimas tristes, pensativa com reflexões do tipo: “Quem sabe um dia, com a ajuda da evolução da medicina e das técnicas da tecnologia moderna...”. Quanto a Helen, adotara-a quando do acidente com a irmã e a tinha como filha. Cercava-a de todos os cuidados e com a entrega plena que toda mãe tem por um filho natural, afinal em suas veias corria o mesmo sangue da sobrinha. Cuidava da menina com ternura e afeto. Falava suave, com um jeito dócil, palavras pausadas e carregadas dos simbolismos do amor, que, para quem ouvia, pareciam brotar de um sentimento vivo, originário de uma verdadeira mãe. Formavam uma família feliz, unida, de bem com a vida, cercada de paz, amor e todo conforto material.

 IV

Vicente era taxista, trinta e seis anos, estatura média, forte, de boa aparência. Estava, invariavelmente, com um chapéu tipo cowboy para esconder a calvície que se desenhava de forma expressiva. Vestia, habitualmente, sobre camisetas brancas de rodeio, um jaleco preto com botões de metal com a estampa de um alazão; usava calça jeans bem cuidadas e impecáveis e reluzentes botas de couro. Era o estereótipo, na cidade, de um homem do campo; um aficionado pelo estilo country-sertanejo. Possuía carro próprio e trabalhava na área central do bairro de Campo Alto na cidade de São Paulo. Apesar da profissão simples, como tantos milhões de brasileiros, aquele cowboy do asfalto tinha um padrão de vida estável. Um homem lutador, determinado, perseverante. Diariamente ia trabalhar com o seu táxi e, não raro, ficava até tarde da noite, para engordar o faturamento; não recusava passageiro nem temia os riscos iminentes e inerentes à profissão. Incansável, mesmo em dias chuvosos saía às ruas. Para justificar seu corre–corre, costumava repetir um bordão a quem o contestava: “pedra que rola não cria limo...”.

V

De segunda a sexta-feira, pontualmente às 12:00h, Vicente enfileirava seu carro na porta do Colégio Santa Catarina para buscar a sobrinha. E durante essa semana e meia de aula não fora diferente. Parado em frente ao portão central do colégio, viu quando ela saiu. Pôs-se de pé ao lado do carro, ergueu a mão e acenou. Helen, vendo-o, rapidamente desceu as escadas em sua direção.
–Oi tio! 
–Oi Helen. Como foi o seu dia de aula?
–Foi corrido, teve muita lição...
–Está com fome?
–Um pouco...
Ela abriu a porta do carro, entrou e sentou-se no banco traseiro, e como de hábito afivelou o cinto de segurança.

Vicente também entrou, fechou a porta, afivelou o cinco de segurança e ligou o ar condicionado. Deu a partida e saiu... 

Inácio Dantas
trecho do livro "Um Vulto entre as Cortinas"
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sábado, 21 de janeiro de 2017

Capítulos II e III do livro "Um crime quase perfeito"

      06 de Julho de 2006 - (Quinta-Feira)

II

Dra. Regina Valadares era uma profissional conceituada no bairro e na classe médica local. Médica pediatra, quarenta anos, um filho, vivia um irônico antagonismo em sua vida: de um lado a ascensão na carreira profissional, de outro um desastre na vida pessoal. Seu processo de separação litigioso se agravava trazendo-lhe sérios problemas e grandes aborrecimentos. Seu marido, Martin Valadares, quarenta e três anos, um jornalista de capacidade mediana, a trocara por uma colega de trabalho, Priscila, também jornalista, mais jovem, bonita... e esperta... Embora fosse ainda um relacionamento sigiloso, havia um agravante: ele não era o único na vida dela. Sua “nova” namorada tinha um “velho” alguém, há muito tempo, e estavam em conluio para “aplicar” um golpe, sabedora que breve ele poria a mão em cinquenta por cento de alguns milhões. Em verdade, até aquele momento, o acerto da divisão dos bens entre ele e a esposa transformara-se numa batalha campal de processos e fóruns. Ofensas, humilhações de parte a parte, eram pólvora pura para fazer eclodir uma disputa sem precedentes. No embate dos advogados, nada indicava que ele seria agraciado com facilidades de receber o que, muito certamente não trabalhara para ter. Por outro lado, ela, resignada no seu papel de mulher e de mãe, não abria mão da sua parte no patrimônio e nos destinos do filho; ele, em tom democrático, deixava para o filho a decisão de com quem ficar, pois “era um rapaz crescido, emancipado, e já podia decidir por si próprio”, dizia. Porém, no tangente a bens e valores era irredutível: fazia questão dos centavos. E o impasse estava aberto. Pelo visto, o divórcio entre os dois seria escrito em papéis escuros com tinta de sangue...


III 
Priscila, trinta anos, de uma família de cinco irmãos, era oriunda de uma pequena cidade no interior paulista. Formada em jornalismo, viera para a capital para tentar a sorte e encontrar um bom trabalho na área. O que, de certa forma, não fora difícil. Com sua beleza encantadora, corpo escultural, e, sobretudo com uma educação burilada pelas mãos rijas da família, mas afetuosas no trato, saíra-se vencedora na sua procura: conseguira um emprego de estagiária numa conceituada empresa jornalística. Depois de alguns meses, com as suas qualidades e competência, firmara-se, passando a ocupar um cargo na redação, já na condição de contratada.
De uma infância pobre e de dificuldades, queria muito mais. O mundo? Quem sabe! O fato é que jurara para si mesma deixar a vida de pobreza e de sofrimento, “nem que eu tenha que vender a alma, não quero nunca mais sentir a dor das privações!”.
Durante um ano exercera eficientemente suas funções. Nos últimos oito meses, fora alocada numa sala contígua à de Martin. Assim, nas idas e vindas pelos longos corredores da redação, aliada à afinidade no trabalho, ambos acabaram estreitando uma amizade que culminou, por parte dele, num convite para “saírem para se conhecerem”. Ela, sabedora da sua condição de casado, deixou claro que seria, de fato, somente para se conhecerem, sem conotação outra qualquer. Martin, coração angustiado, carente de afeto, uma vez que há bom tempo estava às turras com a esposa, fez desse momento com Priscila o nascedouro de algo maior. Sentia-se no paraíso quando estava com ela, inalando uma química que o fazia sair do eixo e desconcertar-se - uma mistura contagiante de doçura, sedução... Esperta, ela entendeu que ali poderia estar um “bom partido”, e que muitos dos seus problemas poderiam, enfim, ser resolvidos. Não demorou, pois, a assentir aos seus apelos de namoro. Sigiloso, no início, mas com o tempo não havia quem não soubesse do idílio entre os dois, sob a promessa, dele, de “algo sério, tão logo estivesse divorciado”...

Entretanto, como sombra negra que insiste cobrir a luz das pessoas que têm um passado com uma história mal escrita, havia um alguém por quem ela se apaixonara e vivera um intrépido romance. No seu diploma de bacharel ela trazia indelevelmente marcado, desde o primeiro ano de faculdade, o nome de Alberto, rapaz que conhecera no campus. Com ele, qual um destino escrito por mãos invisíveis, no futuro dividiria momentos importantes da sua existência...

(c) Direitos de cópia by Inácio Dantas

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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Primeiro capítulo do romance policial "Um Vulto entre as Cortinas"



14 de Março de 2005 - (Segunda-feira)

I


Helen lavava as mãos no banheiro da escola...
Nessas duas últimas semanas de aula, todas as manhãs ela olhava distraidamente pelo vitrô do banheiro e via sempre, no majestoso prédio residencial ao lado, as janelas abertas ventilando o apartamento e o sol penetrando entre as cortinas esvoaçantes. Mas, hoje, diferentemente, ao erguer a cabeça para olhar-se no espelho e arrumar a tiara nos longos cabelos e ajeitar os óculos, viu, através do vitrô do banheiro entreaberto, um vulto estranho no apartamento movimentando-se freneticamente tentando fechar a janela do quarto. Apesar dos vidros verdes esfumaçados, quase impenetráveis à luz e aos olhares externos, viu, no momento em que a janela era fechada, o vulto usando óculos escuros. E viu também o contorno das suas mãos negras de onde, repentinamente, fulgiu um brilho avermelhado ante um raio de sol dourado que refletiu no ar. Curiosa, fixou o olhar mais atentamente e viu atrás do vulto uma sombra no fundo do quarto. Não pôde discernir, porém, se era o vulto de outra pessoa ou de algum móvel: o lustre do quarto obstruía sua visão. Rapidamente as cortinas se fecharam e, por um instante, através de uma fresta, o vulto detrás dos óculos escuros olhou fixamente para o vitrô do banheiro, momento em que os dois olhares se cruzaram... Ela estremeceu. Por segundos temeu aquela visão, como num sonho escuro, perdida sem rumo numa estrada longa. Sentiu um calafrio. Aquele vulto estranho, definitivamente, viu com detalhes sua silhueta pueril e o desenho da sua face de pele alva coberta por óculos de grossas lentes. Ela se afastou, passos miúdos para trás, silenciosamente. Fechou num movimento rápido a torneira que ainda derramava água e, agora a passos largos retornou à sala de aula enxugando as mãos na roupa. Era o seu décimo dia de aula na quinta série daquele colégio. Por singulares coincidências, esta segunda-feira, quatorze de março de dois mil e cinco, seria um novo marco em sua vida.
Quem, afinal, Helen viu no apartamento do prédio ao lado, numa distância de apenas dez metros? Uma coisa era certa: o vulto que ela viu, também por ele foi visto e, inquestionavelmente, se aquela presença humana representava algo escuso ela fatalmente representava perigo.
Ao retornar à sala de aula abriu a porta e entrou atabalhoadamente, sem pedir licença à professora. Todos os alunos da sala perceberam sua inquietude e a olharam inquisitivamente. Sentou-se na carteira e conferiu o horário no relógio da parede: 11:30h. Com o olhar detrás das lentes congelado nos dois ponteiros, resmungou baixinho, para si mesma, “essa não, ainda resta meia hora...”. A professora, ao perceber sua agitação indagou:
–Helen, tudo bem com você?
–Sim, professora, tudo bem... – Respondeu com voz trêmula –
–Tudo bem mesmo, tem certeza? Parece que você viu uma assombração!
Ao dizer essas palavras a classe inteira centrou os olhos na garota e gargalhou, ressoando um eco de quarenta vozes...
Mas Helen não estava para piadas e chacotas. Na sua expressão física denotou repúdio à atitude dos colegas. Dentro de si era um poço de aflições e precisava de uma boia salvadora, não de uma âncora de sarcasmos...
–Acho que é o calor, professora...
–Copie as lições, você está atrasada! – Ordenou virando-se para a lousa. –
Cabisbaixa, ela abriu o caderno, centrou o rosto nas páginas e passou a copiar desenfreadamente as lições. Ao terminar, por alguns segundos se desligou da aula e do caderno e pôs-se a pensar nesse novo mundo que passou a viver.
Era o seu primeiro ano letivo naquele colégio. Mudara-se da zona norte havia menos de sessenta dias, pois seu tio vendera o pequeno apartamento que moravam e comprara um amplo e confortável sobrado no bairro. Tudo ainda era novidade – e todos ainda lhe eram desconhecidos. Novo lar, novos amigos, nova escola e professores... E também novos problemas...
Transcorridos trinta minutos a sirene da escola soou anunciando o fim das aulas. Eram exatamente 12:00h.

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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Capítulo I do livro "Um crime quase perfeito"

06 de Julho de 2006 -  (Quinta-Feira)

I


Dra. Regina, em sua sala, analisava exames de ressonância magnética e redigia os últimos laudos médicos dos seus pacientes...
O relógio marcava exatos 18:50h. Seu consultório fechara para o público, mas ela prosseguia em seu trabalho interno, incansável, com dedicação e profissionalismo. Lá fora o clima era frio. E garoava. O vento, buliçoso, ricocheteava na vidraça e sacudia as persianas. Embora a temperatura da sala estivesse aconchegante, fiapos de ar congelante entravam pelas frestas da janela e inundavam o recinto. Era o inverno com seu manto de gelo envolvendo a cidade e dando mostras de que, além do frio, os dias seriam curtos e as noites longas...
Compenetrada em seus afazeres, ela alternava o olhar entre os papéis e as chapas médicas. Vez por outra o facho de luz dos faróis dos carros no lado de fora penetrava pelo vidro entre as persianas, clareava o ambiente e se dissipava. Cabisbaixa, estava apressada em dar os diagnósticos para os pacientes. Além de tudo, da pressão dos clientes e compromissos sociais, vivia ultimamente em meio a um turbulento problema pessoal. Ressalte-se, não problema financeiro, esse de certa forma era mínimo, bem administrado e estava sob controle. Eram problemas no plural, mas de ordem passional. Sim, aqueles problemas que vêm do âmago do ser, o amor, e quando vêm quem os controla ou os segura? Tentava mitigá-los e esgarçá-los para que se dissipassem no subconsciente. No entanto, renitentes voltavam e a deixava apreensiva. “Sentimentos amorosos não se esvaem assim”, pensava ela, “como bruma da manhã aos raios do sol. Eles ficam na mente e no coração a ribombar como ondas nos penedos à beira mar, intermitentes. Quando, nas inter-relações matrimoniais, a teia dos sentimentos não têm os nutrientes do amor, os filamentos rompem-se facilmente. E é irreatável. Algo como um tendão que se rompe e as duas pontas se separam e se distanciam”. Ela vivia esse momento crítico. Sentia a distância, o esfriar das labaredas que ardem nos corpos dos amantes, pois o fogo não queima nas cinzas, e quando a chama do amor extingue-se, a separação se cauteriza. É causa e efeito, um caminho bifurcado para dois destinos em dois pontos cardeais distantes e divergentes. Assim findam-se belas histórias principiadas no altar e sacramentadas na certidão conjugal...
Por mais que ela tentasse dividir-se entre trabalho e amor, de forma racional e equilibrada, uma das duas opções ficava mais prejudicada que a outra, posto que o coração é um só, o pêndulo do ser, e tende a agir numa direção que ele próprio controla, e nós somos os controlados. E o coração dela era uma usina de onde ultimamente irradiava pouco lúmen de felicidade e muita escureza de aborrecimento. Não obstante, naquele momento o trabalho sobrepunha-se e assumia um primeiro plano. Haviam dores a serem abrandadas, doenças a serem curadas, vidas a serem salvas. E “salvar” a sua própria vida, naquele estágio, ficara em segundo plano... Tinha de carregar o estigma - divorciar-se do marido e conviver em harmonia com seu novo amor, outro médico, também com um divórcio em fase final.
Por um segundo, cansada, empilhou as chapas médicas, empurrou o bloco de receitas médicas para o canto da mesa e pôs-se a refletir sobre as últimas cenas com o marido em casa, quando ele em voz alta vociferou com o dedo em riste, em tom ameaçador:
-Não dá mais Regina. Está insuportável. Definitivamente nosso casamento é um fracasso!
-É um fracasso, Martin, porque você esqueceu seu papel de pai e de marido. – Ela retrucou olhando-o fixamente nos olhos, faiscantes, temerosa de alguma reação abrupta, a qual, por mais que discutissem, nunca se efetivara. Mas ela temia, pois no trabalho ele tinha promovido algumas confusões intempestivas.
A lembrança desse ríspido diálogo estava latente em sua memória, desde o início do ano, quando ele resolvera “definitivamente fazer as malas, deixar a família e morar num apart-hotel “provisoriamente””, segundo lhe dissera.
Ela, por sua vez, decidira reerguer-se emotivamente e construir uma vida nova. Recuperar o tempo e o amor perdido, dar-se uma chance de ser feliz novamente. Sabia que havia uma grande lacuna de alegrias a ser preenchida e um amanhã de desafios que deveria enfrentar. E queria, não contorná-lo, mas transpô-lo. Dentro de si a emoção se movia mais forte que a razão. E o que um coração desamado não faz ao encontrar um novo amor?
Ela estava sozinha no consultório. Os últimos clientes, retardatários, há muito foram atendidos e se retiraram. Sua secretária cumprira o horário de expediente e também a deixara, ouvindo dela a enganosa promessa “também estou indo, já, já...” E se passara mais de uma hora, desde então...
Lá fora a garoa aumentava, o vento recrudescia e desfolhava a verdejante copa dos fícus no pequeno estacionamento na entrada do consultório, espalhando folhas na calçada num redemoinho intenso. A recepção da clínica estava clara. E vazia.

De repente, rompendo o silêncio, o telefone tocou. Ela espreguiçou-se e retirou o aparelho do gancho. Porém, ao atender só deu tempo de ouvir, do outro lado da linha, o som de uma respiração abafada e em seguida o “toque” de “ocupado”. Pensou, “tem gente que não tem nada pra fazer e fica brincando com o telefone uma hora dessas...”. Bocejou, esfregou os olhos, colocou os óculos e conferiu o relógio. Disse para si mesma que “já é hora de ir” e deu por encerrado os trabalhos. Recolheu os exames e as fichas médicas e os colocou nas pastas do arquivo. Fechou as cortinas da janela e trancou as gavetas da mesa. Demorou-se mais alguns minutos arrumando-se para sair. Desligou o computador, a impressora e apagou as luminárias da sala. Nesse exato instante, furtivamente, um vulto a surpreendeu por trás quando girava a chave para fechar a porta da sala. Seu corpo, agarrado violentamente, foi erguido no ar por braços fortes e, embora lutasse contra o agressor e gritasse por socorro, ninguém lá fora podia ouvi-la. A rua estava erma. O vento lá fora sibilava e a porta de entrada estava trancada. Nenhuma alma vivente passava por ali naquele momento para que seus gritos de agonia fossem ouvidos. Ela estava só, suspensa por braços estranhos, pernas bailando no ar, chutando seu agressor, paredes, móveis, porta... Tentava se desvencilhar, mas sua força era limitada. Estava, lentamente, sendo sufocada e sua voz, pouco a pouco, se esvanecendo junto com uma sôfrega respiração. Transcorreram, talvez, apenas dois minutos... Uma eternidade para o agressor; um breve instante para a vítima. Seu corpo, sob as vestes brancas da paz, jazia sob a violência, estendido no chão junto à porta da sala entreaberta. O agressor, para completar “seu trabalho”, abriu a bolsa que ela levava e subtraiu valores - dinheiro, cheques, cartões de crédito... Desprezou apenas o aparelho celular. Vasculhou, ainda, seu corpo e apossou-se das suas joias. O relógio que ela tinha no pulso, cuja pulseira se rompera, também desprezou, na luta ficou danificado por uma pancada na parede. Por fim, antes de evadir-se, tomou derradeiras precauções. Dirigiu-se ao sistema de “circuito interno de TV”, subiu numa cadeira e quebrou abruptamente a câmera. Pouco se preocupou que seu rosto fosse ou não gravado, pois o escondia sob um “gorro de motoqueiro”. Também não se incomodou com o fato de manusear os objetos, pois usava luvas de couro para não deixar impressões digitais. Em seguida desligou o aparelho de vídeo-cassete, desconectou os cabos e fios. Ejetou a fita que gravara sua entrada no recinto e os atos que praticara, atirou-a com ímpeto contra o chão e a pisoteou. Pegou uma sacola plástica da clínica e recolheu dentro os fragmentos da fita. Desligou as luminárias, encostou a porta e saiu. Seu carro estava à porta, estacionado. Em seguida, cantando os pneus, tomou a avenida em direção central e se evadiu. Duas quadras à frente parou rapidamente ao lado dum prédio em construção, onde sob a calçada havia uma caçamba de entulhos, e livrou-se da sacola atirando-a dentro, entre o lixo e os restos de construção... 

-x-

Capas do livro que você adquire, digital (ebook) e impresso nos seguintes endereços da Amazon:
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Obs. 1.No Brasil o livro impresso ainda não está disponibilizado, somente nos outros países acima.
2.O livro está em Português

Capa do livro Impresso América do Norte, Europa, Ásia - exceto Brasil

domingo, 18 de dezembro de 2016

Capítulo I do livro "Assassinato pela Internet"


09 de Janeiro de 2006 - (Segunda-feira) 

I


Paulo entrou no seu escritório, acendeu as luminárias e, no seu ritual diário ligou o computador. Enquanto o equipamento inicializava o sistema operacional, para arejar o ambiente ele subiu as persianas e abriu a janela da sala que dava vista para a avenida Campo Alto. Uma brisa matinal bafejou, circulou no espaço e renovou o ar denso e abafado das últimas semanas. Desde a véspera do Natal ali estivera fechado. Terminadas as festas, e o período de descanso, agora era hora de retomar os trabalhos.
O relógio da sala marcava exatos 8:00h, horário de verão.
Do segundo andar do prédio podia-se ver, lá fora, uma cidade que ainda respirava o aroma festivo da “virada de ano”. A avenida, esquinas e semáforos, mantinham-se ornamentadas com trenós, renas e papais-noéis de isopor pintados em vermelho-encarnado e gigantescas estrelas revestidas em papel alumínio. No chão negro do asfalto, pequenas nuvens brancas de papel picado erguiam-se em redemoinho e se dispersavam ao sopro do vento matinal. Os veículos, transitando em “primeira” marcha, congestionavam-se no meio fio da avenida e os transeuntes, apressados, se deslocavam nas calçadas, rumo aos seus trabalhos. Contrastando com a indolência dos últimos dias, a vida agitada retornava à cidade. As lojas em frente, ainda sonolentas, uma a uma abriam suas portas e reativavam seus negócios. Na praça frontal ao escritório, crianças num alarido corriam no gramado embalando a linha de uma pipa, onde no papel verde levava aos céus a esperança de um ano bom. Era uma manhã clara e ensolarada. O ar, purificado pelo ano novo que chegara, trazia o prenúncio de mais um dia de verão com alta nos ponteiros dos termômetros. Chuva? Estava um clima tão seco que precisaria chover o dobro do habitual para revitalizar o solo e recompor a natureza ao seu estágio normal. No entanto, as previsões não davam conta de precipitações pluviométricas nas próximas vinte e quatro horas; não havia nuvens, o céu estava límpido, azul-anil.
Nesse momento Estela, secretária do escritório, chegara. Enfiou o rosto pela porta entreaberta, que se iluminou pelo raiar do sol que refletiu pela janela, e cumprimentou com um sorriso faiscante nos lábios:
-Bom dia Paulo!
-Bom dia Estela. Tudo bem? Como foi de Natal e Ano Novo?
-Foi maravilhoso! O ano de 2006 começou em altoastral! – Novamente abriu um sorriso, quase infantil, clareado pela luz da alegria, ostentando uma aliança no dedo anelar da mão direita. – Fiquei noiva ontem!
Paulo, ao ver que o motivo de todo aquele contentamento era referendado pela aliança, felicitou-a com entusiasmo:
-Parabéns, Estela. Desejo a você e ao seu noivo eternas felicidades. E que um pouco dessa boa energia se irradie aqui na empresa. Aliás, estamos precisando! – Sorriu também, admirando aquela negra lindíssima, de gestos refinados, querendo compartilhar daquele contentamento, embora ciente de que vivia um momento de desafios. –

Estela, com uma aura venturosa, retirou-se e se dirigiu à sua sala. Passou percorrendo com os olhos a acanhada sala de recepção, onde havia um pequeno sofá num canto, e ao lado, sobre uma mesinha, uma árvore de natal com bolas multicoloridas, fitas, e cartões de boas festas a enfeitá-la. Levava no olhar um contraste com os festejos do dia anterior, pois a semana lhe começava espinhosa. Além da prancheta de projetos, da qual era exímia desenhista, deveria preparar o expediente do dia. E ali se acumulara mais de duas semanas de trabalho... O volume de correspondências que retirara na caixa dos correios do prédio definia bem a tônica das suas responsabilidades. Paulo, por sua vez, acomodou-se confortavelmente na cadeira, ajeitou o mouse e o teclado do computador e começou a acessar os sites de notícias. Como de hábito, iniciava suas atividades diárias primeiramente se atualizando com as notícias do mercado de engenharia e construção. Como se ausentara nos últimos dias, estava ávido para saber o que ditavam os rumos da economia. Mormente com o início oficial do novo ano. De início navegou pelo seu próprio site para ver o gráfico do fluxo de clientes nos últimos dias, e, ao mesmo tempo abriu o Explorer® e “baixou” os e-mails...
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Obs. 1.No Brasil o livro impresso ainda não está disponibilizado, somente nos outros países acima.
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