Romance Policial
Trechos dos livros do Prof. Inácio Dantas, "Assassinato pela Internet", "Um Vulto entre as Cortinas" e "Um crime quase perfeito".
quarta-feira, 13 de março de 2019
terça-feira, 31 de julho de 2018
Romance Policial
Amigos,
se vcs apreciam a leitura de Romances Policiais (escrito por brasileiros, em cenários no Brasil), informo que disponibilizo GRATUITAMENTE meus três livros, em PDF, bastando apenas fornecer-me o email. Livros:
* Assassinato pela Internet
* Um Vulto entre as Cortinas
* Um Crime quase Perfeito
Abs.
Inácio Dantas
Acompanhem outros trabalhos meus no Facebook ou Twitter
Tabs: Romance Policial, Literatura de histórias policiais,
se vcs apreciam a leitura de Romances Policiais (escrito por brasileiros, em cenários no Brasil), informo que disponibilizo GRATUITAMENTE meus três livros, em PDF, bastando apenas fornecer-me o email. Livros:
* Assassinato pela Internet
* Um Vulto entre as Cortinas
* Um Crime quase Perfeito
Abs.
Inácio Dantas
Acompanhem outros trabalhos meus no Facebook ou Twitter
Tabs: Romance Policial, Literatura de histórias policiais,
sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
Capítulos II, III, IV e V do romance policial "Um Vulto entre as Cortinas"
II
Helen era uma garota estudiosa, embora
tímida e retraída por ter sofrido, no seu curto tempo de vida, infortúnios das
poderosas mãos do destino. Tinha um corpo franzino, pele clara, cabelos loiros
e longos e olhos castanhos que necessitavam de lentes corretoras.
Contava
apenas onze anos de idade. Enquanto as demais crianças da sua idade viviam num
mundo de alegria e brincadeiras, ela era reclusa, fechada em si mesma,
prisioneira de um passado que insistia em estar sempre presente. Trazia no
peito feridas de um sofrer que somente o futuro seria capaz de curar. Nesse
breve período de existência perdera seu pai, que a abandonara aos dois anos de
idade, quando num acidente de carro, dirigindo bêbado, causara a morte de sua
mãe. Condenado pelo acidente, cumpriu a pena e depois desapareceu. Ela, órfã,
ficou entregue aos cuidados de sua tia Júlia e de seu tio Vicente.
III
Júlia era uma senhora de trinta e três
anos e única irmã da mãe de Helen. Casada com Vicente há dez anos, não tinha
filhos. Morena de olhos negros, irradiava uma meiguice e uma beleza interior
iluminada pela beleza exterior. Apesar de despojada e de enfrentar os percalços
da vida com disposição e garra, vivia por dentro sua incompletude de mulher,
pois faltava-lhe ainda sentir no ventre a doce emoção de gerar seu próprio
filho. E ela acalentava esse sonho, sonho de todo casal, inalienável. Quando
mentalizava a possibilidade, deixava verter lágrimas tristes, pensativa com
reflexões do tipo: “Quem sabe um dia, com a ajuda da evolução da medicina e das
técnicas da tecnologia moderna...”. Quanto a Helen, adotara-a quando do
acidente com a irmã e a tinha como filha. Cercava-a de todos os cuidados e com
a entrega plena que toda mãe tem por um filho natural, afinal em suas veias
corria o mesmo sangue da sobrinha. Cuidava da menina com ternura e afeto.
Falava suave, com um jeito dócil, palavras pausadas e carregadas dos
simbolismos do amor, que, para quem ouvia, pareciam brotar de um sentimento
vivo, originário de uma verdadeira mãe. Formavam uma família feliz, unida, de
bem com a vida, cercada de paz, amor e todo conforto material.
IV
Vicente era taxista, trinta e seis
anos, estatura média, forte, de boa aparência. Estava, invariavelmente, com um
chapéu tipo cowboy para esconder a calvície que se desenhava de forma
expressiva. Vestia, habitualmente, sobre camisetas brancas de rodeio, um jaleco
preto com botões de metal com a estampa de um alazão; usava calça jeans bem
cuidadas e impecáveis e reluzentes botas de couro. Era o estereótipo, na
cidade, de um homem do campo; um aficionado pelo estilo country-sertanejo.
Possuía carro próprio e trabalhava na área central do bairro de Campo Alto na
cidade de São Paulo. Apesar da profissão simples, como tantos milhões de
brasileiros, aquele cowboy do asfalto tinha um padrão de vida estável. Um homem
lutador, determinado, perseverante. Diariamente ia trabalhar com o seu táxi e,
não raro, ficava até tarde da noite, para engordar o faturamento; não recusava
passageiro nem temia os riscos iminentes e inerentes à profissão. Incansável,
mesmo em dias chuvosos saía às ruas. Para justificar seu corre–corre, costumava
repetir um bordão a quem o contestava: “pedra que rola não cria limo...”.
V
De segunda
a sexta-feira, pontualmente às 12:00h, Vicente enfileirava seu carro na porta
do Colégio Santa Catarina para buscar a sobrinha. E durante essa semana e meia
de aula não fora diferente. Parado em frente ao portão central do colégio, viu
quando ela saiu. Pôs-se de pé ao lado do carro, ergueu a mão e acenou. Helen,
vendo-o, rapidamente desceu as escadas em sua direção.
–Oi
tio!
–Oi
Helen. Como foi o seu dia de aula?
–Foi
corrido, teve muita lição...
–Está
com fome?
–Um
pouco...
Ela
abriu a porta do carro, entrou e sentou-se no banco traseiro, e como de hábito
afivelou o cinto de segurança.
Vicente
também entrou, fechou a porta, afivelou o cinco de segurança e ligou o ar
condicionado. Deu a partida e saiu...
Inácio Dantas
trecho do livro "Um Vulto entre as Cortinas"
Livro impresso: clique aqui
Livro digital: clique aqui
sábado, 21 de janeiro de 2017
Capítulos II e III do livro "Um crime quase perfeito"
06 de Julho de 2006 - (Quinta-Feira)
II
Dra. Regina Valadares era uma profissional conceituada
no bairro e na classe médica local. Médica pediatra, quarenta anos, um filho, vivia
um irônico antagonismo em sua vida: de um lado a ascensão na carreira profissional,
de outro um desastre na vida pessoal. Seu processo de separação litigioso se
agravava trazendo-lhe sérios problemas e grandes aborrecimentos. Seu marido,
Martin Valadares, quarenta e três anos, um jornalista de capacidade mediana, a
trocara por uma colega de trabalho, Priscila, também jornalista, mais jovem,
bonita... e esperta... Embora fosse ainda um relacionamento sigiloso, havia um
agravante: ele não era o único na vida dela. Sua “nova” namorada tinha um
“velho” alguém, há muito tempo, e estavam em conluio para “aplicar” um golpe,
sabedora que breve ele poria a mão em cinquenta por cento de alguns milhões. Em
verdade, até aquele momento, o acerto da divisão dos bens entre ele e a esposa transformara-se
numa batalha campal de processos e fóruns. Ofensas, humilhações de parte a
parte, eram pólvora pura para fazer eclodir uma disputa sem precedentes. No
embate dos advogados, nada indicava que ele seria agraciado com facilidades de
receber o que, muito certamente não trabalhara para ter. Por outro lado, ela,
resignada no seu papel de mulher e de mãe, não abria mão da sua parte no
patrimônio e nos destinos do filho; ele, em tom democrático, deixava para o
filho a decisão de com quem ficar, pois “era um rapaz crescido, emancipado, e
já podia decidir por si próprio”, dizia. Porém, no tangente a bens e valores
era irredutível: fazia questão dos centavos. E o impasse estava aberto. Pelo
visto, o divórcio entre os dois seria escrito em papéis escuros com tinta de
sangue...
Priscila, trinta anos, de uma família de cinco irmãos, era
oriunda de uma pequena cidade no interior paulista. Formada em jornalismo,
viera para a capital para tentar a sorte e encontrar um bom trabalho na área. O
que, de certa forma, não fora difícil. Com sua beleza encantadora, corpo
escultural, e, sobretudo com uma educação burilada pelas mãos rijas da família,
mas afetuosas no trato, saíra-se vencedora na sua procura: conseguira um
emprego de estagiária numa conceituada empresa jornalística. Depois de alguns
meses, com as suas qualidades e competência, firmara-se, passando a ocupar um
cargo na redação, já na condição de contratada.
De uma infância pobre e de dificuldades, queria muito
mais. O mundo? Quem sabe! O fato é que jurara para si mesma deixar a vida de pobreza
e de sofrimento, “nem que eu tenha que vender a alma, não quero nunca mais sentir
a dor das privações!”.
Durante um ano exercera eficientemente suas funções.
Nos últimos oito meses, fora alocada numa sala contígua à de Martin. Assim, nas
idas e vindas pelos longos corredores da redação, aliada à afinidade no
trabalho, ambos acabaram estreitando uma amizade que culminou, por parte dele,
num convite para “saírem para se conhecerem”. Ela, sabedora da sua condição de
casado, deixou claro que seria, de fato, somente para se conhecerem, sem
conotação outra qualquer. Martin, coração angustiado, carente de afeto, uma vez
que há bom tempo estava às turras com a esposa, fez desse momento com Priscila
o nascedouro de algo maior. Sentia-se no paraíso quando estava com ela, inalando
uma química que o fazia sair do eixo e desconcertar-se - uma mistura
contagiante de doçura, sedução... Esperta, ela entendeu que ali poderia estar
um “bom partido”, e que muitos dos seus problemas poderiam, enfim, ser
resolvidos. Não demorou, pois, a assentir aos seus apelos de namoro. Sigiloso,
no início, mas com o tempo não havia quem não soubesse do idílio entre os dois,
sob a promessa, dele, de “algo sério, tão logo estivesse divorciado”...
Entretanto, como sombra negra que insiste cobrir a luz
das pessoas que têm um passado com uma história mal escrita, havia um alguém
por quem ela se apaixonara e vivera um intrépido romance. No seu diploma de
bacharel ela trazia indelevelmente marcado, desde o primeiro ano de faculdade, o
nome de Alberto, rapaz que conhecera no campus. Com ele, qual um destino escrito
por mãos invisíveis, no futuro dividiria momentos importantes da sua existência...
(c) Direitos de cópia by Inácio Dantas
Livro Impresso: clique aqui.
Livro digital: clique aqui.
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
Primeiro capítulo do romance policial "Um Vulto entre as Cortinas"
14
de Março de 2005 - (Segunda-feira)
I
Helen lavava as mãos no banheiro da
escola...
Nessas
duas últimas semanas de aula, todas as manhãs ela olhava distraidamente pelo
vitrô do banheiro e via sempre, no majestoso prédio residencial ao lado, as
janelas abertas ventilando o apartamento e o sol penetrando entre as cortinas
esvoaçantes. Mas, hoje, diferentemente, ao erguer a cabeça para olhar-se no
espelho e arrumar a tiara nos longos cabelos e ajeitar os óculos, viu, através
do vitrô do banheiro entreaberto, um vulto estranho no apartamento
movimentando-se freneticamente tentando fechar a janela do quarto. Apesar dos
vidros verdes esfumaçados, quase impenetráveis à luz e aos olhares externos,
viu, no momento em que a janela era fechada, o vulto usando óculos escuros. E
viu também o contorno das suas mãos negras de onde, repentinamente, fulgiu um
brilho avermelhado ante um raio de sol dourado que refletiu no ar. Curiosa,
fixou o olhar mais atentamente e viu atrás do vulto uma sombra no fundo do
quarto. Não pôde discernir, porém, se era o vulto de outra pessoa ou de algum móvel:
o lustre do quarto obstruía sua visão. Rapidamente as cortinas se fecharam e,
por um instante, através de uma fresta, o vulto detrás dos óculos escuros olhou
fixamente para o vitrô do banheiro, momento em que os dois olhares se
cruzaram... Ela estremeceu. Por segundos temeu aquela visão, como num sonho
escuro, perdida sem rumo numa estrada longa. Sentiu um calafrio. Aquele vulto
estranho, definitivamente, viu com detalhes sua silhueta pueril e o desenho da
sua face de pele alva coberta por óculos de grossas lentes. Ela se afastou,
passos miúdos para trás, silenciosamente. Fechou num movimento rápido a
torneira que ainda derramava água e, agora a passos largos retornou à sala de
aula enxugando as mãos na roupa. Era o seu décimo dia de aula na quinta série
daquele colégio. Por singulares coincidências, esta segunda-feira, quatorze de
março de dois mil e cinco, seria um novo marco em sua vida.
Quem,
afinal, Helen viu no apartamento do prédio ao lado, numa distância de apenas
dez metros? Uma coisa era certa: o vulto que ela viu, também por ele foi visto
e, inquestionavelmente, se aquela presença humana representava algo escuso ela
fatalmente representava perigo.
Ao
retornar à sala de aula abriu a porta e entrou atabalhoadamente, sem pedir
licença à professora. Todos os alunos da sala perceberam sua inquietude e a
olharam inquisitivamente. Sentou-se na carteira e conferiu o horário no relógio
da parede: 11:30h. Com o olhar detrás das lentes congelado nos dois ponteiros,
resmungou baixinho, para si mesma, “essa não, ainda resta meia hora...”. A
professora, ao perceber sua agitação indagou:
–Helen,
tudo bem com você?
–Sim,
professora, tudo bem... – Respondeu com voz trêmula –
–Tudo
bem mesmo, tem certeza? Parece que você viu uma assombração!
Ao
dizer essas palavras a classe inteira centrou os olhos na garota e gargalhou,
ressoando um eco de quarenta vozes...
Mas
Helen não estava para piadas e chacotas. Na sua expressão física denotou
repúdio à atitude dos colegas. Dentro de si era um poço de aflições e precisava
de uma boia salvadora, não de uma âncora de sarcasmos...
–Acho
que é o calor, professora...
–Copie
as lições, você está atrasada! – Ordenou virando-se para a lousa. –
Cabisbaixa,
ela abriu o caderno, centrou o rosto nas páginas e passou a copiar desenfreadamente
as lições. Ao terminar, por alguns segundos se desligou da aula e do caderno e
pôs-se a pensar nesse novo mundo que passou a viver.
Era o
seu primeiro ano letivo naquele colégio. Mudara-se da zona norte havia menos de
sessenta dias, pois seu tio vendera o pequeno apartamento que moravam e
comprara um amplo e confortável sobrado no bairro. Tudo ainda era novidade – e
todos ainda lhe eram desconhecidos. Novo lar, novos amigos, nova escola e
professores... E também novos problemas...
Transcorridos
trinta minutos a sirene da escola soou anunciando o fim das aulas. Eram
exatamente 12:00h.
................
Adquira o livro em forma digital e impressa:
Livro Digital:
Amazon.com.br e Amazon.com
Livro Impresso:
Amazon.com e Amazon Europa
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
Capítulo I do livro "Um crime quase perfeito"
06 de Julho de 2006 - (Quinta-Feira)
Dra. Regina, em sua sala, analisava exames de ressonância magnética e redigia
os últimos laudos médicos dos seus pacientes...
O relógio marcava exatos 18:50h. Seu consultório fechara para o público, mas ela prosseguia
em seu trabalho interno, incansável, com dedicação e profissionalismo. Lá fora o
clima era frio. E garoava. O vento, buliçoso, ricocheteava na vidraça e sacudia
as persianas. Embora a temperatura da sala estivesse aconchegante, fiapos de ar
congelante entravam pelas frestas da janela e inundavam o recinto. Era o
inverno com seu manto de gelo envolvendo a cidade e dando mostras de que, além
do frio, os dias seriam curtos e as noites longas...
Compenetrada em seus afazeres, ela alternava o olhar entre os papéis e as chapas médicas. Vez
por outra o facho de luz dos faróis dos carros no lado de fora penetrava pelo
vidro entre as persianas, clareava o ambiente e se dissipava. Cabisbaixa, estava apressada em dar os diagnósticos para os pacientes. Além de tudo, da
pressão dos clientes e compromissos sociais, vivia ultimamente em meio a um
turbulento problema pessoal. Ressalte-se, não problema financeiro, esse de
certa forma era mínimo, bem administrado e estava sob controle. Eram problemas
no plural, mas de ordem passional. Sim, aqueles problemas que vêm do âmago do
ser, o amor, e quando vêm quem os controla ou os segura? Tentava mitigá-los e esgarçá-los
para que se dissipassem no subconsciente. No entanto, renitentes voltavam e a
deixava apreensiva. “Sentimentos amorosos não se esvaem assim”, pensava ela, “como
bruma da manhã aos raios do sol. Eles ficam na mente e no coração a ribombar
como ondas nos penedos à beira mar, intermitentes. Quando, nas inter-relações
matrimoniais, a teia dos sentimentos não têm os nutrientes do amor, os
filamentos rompem-se facilmente. E é irreatável. Algo como um tendão que se
rompe e as duas pontas se separam e se distanciam”. Ela vivia esse momento
crítico. Sentia a distância, o esfriar das labaredas que ardem nos corpos dos
amantes, pois o fogo não queima nas cinzas, e quando a chama do amor
extingue-se, a separação se cauteriza. É causa e efeito, um caminho bifurcado
para dois destinos em dois pontos cardeais distantes e divergentes. Assim findam-se
belas histórias principiadas no altar e sacramentadas na certidão conjugal...
Por mais que ela tentasse dividir-se entre trabalho e amor, de forma
racional e equilibrada, uma das duas opções ficava mais prejudicada que a outra,
posto que o coração é um só, o pêndulo do ser, e tende a agir numa direção que
ele próprio controla, e nós somos os controlados. E o coração dela era uma
usina de onde ultimamente irradiava pouco lúmen de felicidade e muita escureza
de aborrecimento. Não obstante, naquele momento o trabalho sobrepunha-se e assumia
um primeiro plano. Haviam dores a serem abrandadas, doenças a serem curadas,
vidas a serem salvas. E “salvar” a sua própria vida, naquele estágio, ficara em
segundo plano... Tinha de carregar o estigma - divorciar-se do marido e
conviver em harmonia com seu novo amor, outro médico, também com um divórcio em
fase final.
Por um segundo, cansada, empilhou as chapas médicas, empurrou o bloco de
receitas médicas para o canto da mesa e pôs-se a refletir sobre as últimas
cenas com o marido em casa, quando ele em voz alta vociferou com o dedo em
riste, em tom ameaçador:
-Não dá mais Regina. Está insuportável. Definitivamente nosso casamento
é um fracasso!
-É um fracasso, Martin, porque você esqueceu seu papel de pai e de
marido. – Ela retrucou olhando-o fixamente nos olhos, faiscantes, temerosa de
alguma reação abrupta, a qual, por mais que discutissem, nunca se efetivara.
Mas ela temia, pois no trabalho ele tinha promovido algumas confusões
intempestivas.
A lembrança desse ríspido diálogo estava latente em sua memória, desde o
início do ano, quando ele resolvera “definitivamente fazer as malas, deixar a
família e morar num apart-hotel “provisoriamente””, segundo lhe dissera.
Ela, por sua vez, decidira reerguer-se emotivamente e construir uma vida
nova. Recuperar o tempo e o amor perdido, dar-se uma chance de ser feliz
novamente. Sabia que havia uma grande lacuna de alegrias a ser preenchida e um amanhã
de desafios que deveria enfrentar. E queria, não contorná-lo, mas transpô-lo. Dentro
de si a emoção se movia mais forte que a razão. E o que um coração desamado não
faz ao encontrar um novo amor?
Ela estava sozinha no consultório. Os últimos clientes, retardatários,
há muito foram atendidos e se retiraram. Sua secretária cumprira o horário de
expediente e também a deixara, ouvindo dela a enganosa promessa “também estou
indo, já, já...” E se passara mais de uma hora, desde então...
Lá fora a garoa aumentava, o vento recrudescia e desfolhava a verdejante
copa dos fícus no pequeno estacionamento na entrada do consultório, espalhando
folhas na calçada num redemoinho intenso. A recepção da clínica estava clara. E
vazia.
De repente, rompendo o silêncio, o telefone
tocou. Ela espreguiçou-se e retirou o aparelho do gancho. Porém, ao atender só
deu tempo de ouvir, do outro lado da linha, o som de uma respiração abafada e
em seguida o “toque” de “ocupado”. Pensou, “tem gente que não tem nada pra
fazer e fica brincando com o telefone uma hora dessas...”. Bocejou, esfregou os
olhos, colocou os óculos e conferiu o relógio. Disse para si mesma que “já é
hora de ir” e deu por encerrado os trabalhos. Recolheu os exames e as fichas médicas
e os colocou nas pastas do arquivo. Fechou as cortinas da janela e trancou as
gavetas da mesa. Demorou-se mais alguns minutos arrumando-se para sair. Desligou
o computador, a impressora e apagou as luminárias da sala. Nesse exato
instante, furtivamente, um vulto a surpreendeu por trás quando girava a chave para
fechar a porta da sala. Seu corpo, agarrado violentamente, foi erguido no ar
por braços fortes e, embora lutasse contra o agressor e gritasse por socorro,
ninguém lá fora podia ouvi-la. A rua estava erma. O vento lá fora sibilava e a porta de entrada
estava trancada. Nenhuma alma vivente passava por ali naquele momento para que
seus gritos de agonia fossem ouvidos. Ela estava só, suspensa por braços
estranhos, pernas bailando no ar, chutando seu agressor, paredes, móveis, porta...
Tentava se desvencilhar, mas sua força era limitada. Estava, lentamente, sendo
sufocada e sua voz, pouco a pouco, se esvanecendo junto com uma sôfrega respiração.
Transcorreram, talvez, apenas dois minutos... Uma eternidade para o agressor;
um breve instante para a vítima. Seu corpo, sob as vestes brancas da paz, jazia
sob a violência, estendido no chão junto à porta da sala entreaberta. O
agressor, para completar “seu trabalho”, abriu a bolsa que ela levava e
subtraiu valores - dinheiro, cheques, cartões de crédito... Desprezou apenas o
aparelho celular. Vasculhou, ainda, seu corpo e apossou-se das suas joias. O
relógio que ela tinha no pulso, cuja pulseira se rompera, também desprezou, na
luta ficou danificado por uma pancada na parede. Por fim, antes de evadir-se,
tomou derradeiras precauções. Dirigiu-se ao sistema de “circuito interno de TV”,
subiu numa cadeira e quebrou abruptamente a câmera. Pouco se preocupou que seu
rosto fosse ou não gravado, pois o escondia sob um “gorro de motoqueiro”.
Também não se incomodou com o fato de manusear os objetos, pois usava luvas de
couro para não deixar impressões digitais. Em seguida desligou o aparelho de
vídeo-cassete, desconectou os cabos e fios. Ejetou a fita que gravara sua
entrada no recinto e os atos que praticara, atirou-a com ímpeto contra o chão e
a pisoteou. Pegou uma sacola plástica da clínica e recolheu dentro os
fragmentos da fita. Desligou as luminárias, encostou a porta e saiu. Seu carro
estava à porta, estacionado. Em seguida, cantando os pneus, tomou a avenida em direção
central e se evadiu. Duas quadras à frente parou rapidamente ao lado dum prédio
em construção, onde sob a calçada havia uma caçamba de entulhos, e livrou-se da
sacola atirando-a dentro, entre o lixo e os restos de construção...
-x-
Capas do livro que você adquire, digital (ebook) e impresso nos seguintes endereços da Amazon:
-Brasil, México, Espanha, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Inglaterra, Itália, França, Índia, Austrália, Nova Zelândia.
Obs. 1.No Brasil o livro impresso ainda não está disponibilizado, somente nos outros países acima.
2.O livro está em Português
Capa do livro Impresso América do Norte, Europa, Ásia - exceto Brasil
domingo, 18 de dezembro de 2016
Capítulo I do livro "Assassinato pela Internet"
09 de Janeiro de 2006 - (Segunda-feira)
I
Paulo entrou
no seu escritório, acendeu as luminárias e, no seu ritual diário ligou o
computador. Enquanto o equipamento inicializava o sistema operacional, para
arejar o ambiente ele subiu as persianas e abriu a janela da sala que dava
vista para a avenida Campo Alto. Uma brisa matinal bafejou, circulou no espaço
e renovou o ar denso e abafado das últimas semanas. Desde a véspera do Natal
ali estivera fechado. Terminadas as festas, e o período de descanso, agora era
hora de retomar os trabalhos.
O relógio da sala marcava exatos 8:00h, horário de
verão.
Do segundo andar do prédio podia-se ver, lá fora, uma
cidade que ainda respirava o aroma festivo da “virada de ano”. A avenida,
esquinas e semáforos, mantinham-se ornamentadas com trenós, renas e
papais-noéis de isopor pintados em vermelho-encarnado e gigantescas estrelas revestidas
em papel alumínio. No chão negro do asfalto, pequenas nuvens brancas de papel
picado erguiam-se em redemoinho e se dispersavam ao sopro do vento matinal. Os veículos,
transitando em “primeira” marcha, congestionavam-se no meio fio da avenida e os
transeuntes, apressados, se deslocavam nas calçadas, rumo aos seus trabalhos. Contrastando
com a indolência dos últimos dias, a vida agitada retornava à cidade. As lojas em
frente, ainda sonolentas, uma a uma abriam suas portas e reativavam seus
negócios. Na praça frontal ao escritório, crianças num alarido corriam no
gramado embalando a linha de uma pipa, onde no papel verde levava aos céus a
esperança de um ano bom. Era uma manhã clara e ensolarada. O ar, purificado
pelo ano novo que chegara, trazia o prenúncio de mais um dia de verão com alta
nos ponteiros dos termômetros. Chuva? Estava um clima tão seco que precisaria
chover o dobro do habitual para revitalizar o solo e recompor a natureza ao seu
estágio normal. No entanto, as previsões não davam conta de precipitações
pluviométricas nas próximas vinte e quatro horas; não havia nuvens, o céu
estava límpido, azul-anil.
Nesse momento Estela, secretária do escritório, chegara.
Enfiou o rosto pela porta entreaberta, que se iluminou pelo raiar do sol que
refletiu pela janela, e cumprimentou com um sorriso faiscante nos lábios:
-Bom dia Paulo!
-Bom dia Estela. Tudo bem? Como foi de Natal e Ano
Novo?
-Foi maravilhoso! O ano de 2006 começou em altoastral!
– Novamente abriu um sorriso, quase infantil, clareado pela luz da alegria,
ostentando uma aliança no dedo anelar da mão direita. – Fiquei noiva ontem!
Paulo, ao ver que o motivo de todo aquele
contentamento era referendado pela aliança, felicitou-a com entusiasmo:
-Parabéns, Estela. Desejo a você e ao seu noivo eternas
felicidades. E que um pouco dessa boa energia se irradie aqui na empresa.
Aliás, estamos precisando! – Sorriu também, admirando aquela negra lindíssima, de
gestos refinados, querendo compartilhar daquele contentamento, embora ciente de
que vivia um momento de desafios. –
Estela, com uma aura venturosa, retirou-se e se
dirigiu à sua sala. Passou percorrendo com os olhos a acanhada sala de
recepção, onde havia um pequeno sofá num canto, e ao lado, sobre uma mesinha,
uma árvore de natal com bolas multicoloridas, fitas, e cartões de boas festas a
enfeitá-la. Levava no olhar um contraste com os festejos do dia anterior, pois a
semana lhe começava espinhosa. Além da prancheta de projetos, da qual era
exímia desenhista, deveria preparar o expediente do dia. E ali se acumulara
mais de duas semanas de trabalho... O volume de correspondências que retirara
na caixa dos correios do prédio definia bem a tônica das suas responsabilidades.
Paulo, por sua vez, acomodou-se confortavelmente na cadeira, ajeitou o mouse e
o teclado do computador e começou a acessar os sites de notícias. Como
de hábito, iniciava suas atividades diárias primeiramente se atualizando com as
notícias do mercado de engenharia e construção. Como se ausentara nos últimos
dias, estava ávido para saber o que ditavam os rumos da economia. Mormente com
o início oficial do novo ano. De início navegou pelo seu próprio site
para ver o gráfico do fluxo de clientes nos últimos dias, e, ao mesmo tempo
abriu o Explorer® e “baixou” os e-mails...
- # -
Capas do livro que você adquire, digital (ebook) e impresso nos
seguintes endereços da Amazon:
-Brasil, México, Espanha, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Inglaterra,
Itália, França, Índia, Austrália, Nova Zelândia.
Obs. 1.No Brasil o livro impresso ainda não está disponibilizado,
somente nos outros países acima.
2.O livro está em Português
Capa do livro Impresso América do Norte, Europa,
Ásia - exceto Brasil
Capa do livro em formato digital (ebook)
Brasil e todos os países
tags: Inácio Dantas, romance policial brasileiro, crime pela internet
Assinar:
Postagens (Atom)